O objeto do arrependimento é o pecado. Por isso, é chamado de “arrependimento de obras mortas” (Hb 6.1), que o pecado produz. Dessas obras o sangue de Cristo purifica a consciência de um pecador arrependido, trazendo-lhe paz e perdão (Hb 9.1).
(1) Primeiramente, tem de haver arrependimento não somente de pecados grosseiros, mas também de pecados menores. Há diferenças entre os pecados. Uns são maiores, outros, menores (Jo 19.11). Mas ambos exigem arrependimento. Pecados contra ambas as tábuas da Lei, pecados imediatamente contra Deus e pecados contra os homens (alguns pecados contra os homens são mais perversos e graves do que outros), bem como aqueles pecados contra Deus, tais como adorar demônios e ídolos de ouro e prata, etc., assassinatos, feitiçaria, fornicação e roubos... e não somente esses, mas também pecados menores — tem de haver arrependimento de todos eles, bem como de pensamentos pecaminosos, pois os pensamentos insensatos são pecado (Pv 24.9)...
O homem ímpio tem de se arrepender e abandonar seus pensamentos, e o homem perverso, deixar os seus caminhos e converter-se ao Senhor. Deve haver arrependimento não somente de pensamentos impuros, orgulhosos, maliciosos, invejosos e vingativos, mas também de pensamentos de obter a justificação diante de Deus mediante a justiça própria, que pode estar implícito no texto ao qual nos referimos (Is 55.7).
(2) Em segundo, tem de haver arrependimento de pecados públicos e particulares. Alguns pecados são cometidos de maneira notória, à luz do dia, e são conhecidos por todos. Outros pecados são mais secretos. Um pecador verdadeiramente despertado... se arrepende deles, de coração, e até de pecados conhecidos somente por ele mesmo e por Deus. Isso é uma prova da genuinidade de seu arrependimento.
(3) Em terceiro, tem de haver arrependimento de pecados de omissão e de comissão. Quando alguém omite os deveres espirituais que devem ser cumpridos ou comete pecados que deveriam ser evitados; ou omite as questões mais importantes do cristianismo e atenta somente às menos importantes, quando deveria ter feito aquelas e não ter omitido estas; e, visto que Deus perdoa ambas (Is 43.22-25) — ele precisa arrepender-se de ambos os tipos de pecado. Um senso da graça perdoadora engajará o pecador despertado na prática do arrependimento.
(4) Em quarto, tem de haver arrependimento de pecados cometidos nas mais solenes, sérias, espirituais e santas realizações do povo de Deus. Não há um homem justo que faça o bem e não peque no bem que faz. Há não somente imperfeição, mas também impureza na melhor retidão que os santos produzem de si mesmos e, por isso, é chamada de “trapo da imundícia” (Is 64.6).
(5) Em quinto, tem de haver arrependimento dos pecados diários da vida. Nenhum homem vive sem cometer pecados. O pecado é cometido diariamente pelo melhor dos homens. Em muitas ou mesmo em todas as coisas, todos ofendemos a Deus. Assim como temos necessidade diária de orar e somos instruídos a rogar a Deus o perdão dos pecados, assim também temos de nos arrepender dos pecados todos os dias... O arrependimento deve ser exercitado continuamente pelos crentes, visto que eles pecam a todo momento contra Deus, em pensamentos, palavras e atos.
(6) Em sexto, devemos nos arrepender não somente de pecados e transgressões em pensamentos, palavras e obras, mas também do pecado original e natural. Quando Davi caiu em pecados graves e foi trazido ao senso arrependimento sincero pelos pecados, fez confissão dos pecados no salmo penitencial que escreveu na ocasião e foi levado a perceber e lamentar a corrupção original de sua natureza. Dessa corrupção flui todas as ações pecaminosas — “Eu nasci na iniqüidade” (Sl 51.5)... Ora, quando um pecador despertado confessa, lamenta e chora a corrupção original de sua natureza e o pecado que habita nele, esse é um caso evidente de que seu arrependimento é genuíno e sincero...
Os sujeitos do arrependimento são os pecadores, e somente eles. Adão, em seu estado de inocência, não tinha necessidade de arrependimento. Como não pecava, não havia pecado do qual ele tinha de se arrepender. Aqueles que, em suas considerações, imaginam-se perfeitamente justos e sem pecado não têm necessidade de arrependimento. Por isso, Cristo disse: “Não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mt 9.13).
(a) Todos os homens são pecadores; todos descendem de Adão por geração natural. Toda a posteridade de Adão estava nele; e, representados por ele quando pecou, todos pecaram nele. O pecado de Adão lhes foi imputado e possuem uma natureza corrupta que legaram dele. Por isso, são transgressores desde o ventre e culpados de pecados e transgressões atuais. Assim, todos necessitam de arrependimento, incluindo aqueles que se acham justos e desprezam os outros como menos santos do que eles mesmos. Esses acham que não necessitam de arrependimento, mas isso não é verdade. E não somente eles, mas também aqueles que estão no melhor senso de justiça precisam do arrependimento diário, visto que pecam continuamente em tudo que fazem.
(b) Os homens de todos os povos, judeus e gentios, são os sujeitos do arrependimento. Todos estão debaixo do pecado, sob o seu poder, envolvidos em sua culpa e sujeitos à sua punição. Deus ordena que “todos, em toda parte, se arrependam” (At 17.30). Durante o tempo em que João Batista e nosso Senhor estiveram na terra, a doutrina do arrependimento foi pregada somente aos judeus. Mas depois da ressurreição de Cristo, Ele instruiu seus apóstolos e ordenou que “em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.47). Em conseqüência disso, os apóstolos exortaram primeiramente os judeus e, depois, os gentios a se arrependerem. E, de modo específico, o apóstolo Paulo testificou “tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21).
(c) Os homens são os sujeitos do arrependimento somente nesta vida. Quando esta vida terminar, acabar-se a dispensação do evangelho e Cristo vier pela segunda vez, a porta do arrependimento e da fé se fechará. Não haverá mais lugar para o arrependimento, nem meio de arrependimento, nem sujeitos capazes de realizá-lo. Quanto aos santos no céu, eles não precisam de arrependimento. Quanto aos ímpios no inferno, eles estão desespero total e são incapazes de se arrependerem para a vida... Embora haja choro e ranger de dentes ali, não há arrependimento. Por isso, o rico que estava no inferno desejou que Lázaro fosse enviado a seus irmãos vivos, esperando que, por meio da ida de um dentre os mortos, para alertá-los sobre o lugar de tormento, eles se arrependeriam. Ele sabia que seus parentes nunca se arrependeriam ali, se não o fizessem na vida presente, antes de irem para aquele lugar. Portanto, o arrependimento não dever ser procrastinado.
Extraído de A Complete Body of Doctrinal Divinity Deduced from Sacred Scripture,reimpresso por The Baptist Standard Bearer.
Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright© Editora FIEL 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário